O poder sobre os territórios acontece, antes de tudo, pelos corpos.

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O programa O corpo e o poder selecionou filmes que nos permitem refletir sobre as diversas formas de violência sofridas pelos corpos vulnerabilizados pelas estruturas de poder. Seja na precariedade das condições do exercício da profissão, seja no embate com o estado em lutas organizadas, seja no âmbito das violências de gênero na vida doméstica e nas relações afetivas, seja nas relações de caça e caçador entre os homens e os animais.  Esse conjunto de filmes nos lembra que a naturalização da violência e da exploração precisa ser desconstruída, denunciada, combatida e debatida de forma frontal por nossa sociedade. 

Estado Itinerante é uma ficçåo ambientada na periferia de Belo Horizonte. Vivi começa a trabalhar como cobradora de ônibus, desejando não voltar para casa. A semana passa rápido. Durante as paradas do itinerário de sua linha, ela conhece outras cobradoras e elas saem juntas para se divertir. Vivi fortalece seu desejo de fuga de uma relação opressiva. Um filme sobre violência doméstica, que trata de um tema tão duro, de uma forma tão próxima da personagem. A obra reproduz os sentimentos da invisibilidade, do medo e do silêncio das mulheres vítimas de abusos e violências.

Sucata de Plástico registra a violência imposta aos corpos  em exposição direta com agrotóxicos na prática diária de uma pequena usina de reciclagem de Quixeré, no Interior do Ceará, onde os trabalhadores reciclam o plástico que acumula o veneno usado nas plantações de melão, sem nenhum tipo de equipamento de segurança ou de esclarecimento sobre os riscos que estão correndo.

Em Na missão com Kadu,  uma equipe visita a ocupação Izidora, na região metropolitana de Belo Horizonte, que está em estado de alerta com as ameaças de despejo.  Eles estão ali para mostrar as imagens filmadas pelos próprios moradores, do ataque que sofreram pela polícia em sua última marcha para a sede do governo.  Eles relembram o ocorrido com Kadu, uma liderança da comunidade.  A  partir das imagens registradas pela câmera de celular de Kadu projetada numa parede nos tornamos testemunhas  da violência policial, do desespero e da revolta de Kadu durante a manifestação. O filme é a memória viva das lutas de Kadu, que foi morto meses depois por grileiros.  

O Peixe ficcionaliza um ritual onde os pescadores abraçam os peixes assim que os retiram da água, num gesto ambíguo de afeto e violência.  O filme  amplia e complexifica o olhar para o exercício do poder primordial da relação entre de caça e caçador. O sonho romântico da comunidade em harmonia com o seu entorno atesta a falta de conexão do homem da cidade com a natureza que está ao seu serviço.