Diretoras abordam a relação de mulheres com o trabalho em seus territórios
Correnteza é um programa com filmes realizados por diretoras que abordam a relação de mulheres com o trabalho em seus territórios. Nesses filmes, as protagonistas femininas são as responsáveis pela criação dos filhos e pela formação e manutenção dos núcleos familiares. Os homens são ausentes. Na companhia de outras mulheres, criam entre si dinâmicas femininas de cuidado e ajuda mútua. As obras discutem também os processos migratórios pelo trabalho e como esses movimentos afetam as suas vidas.
Rio de Mulheres é ambientado na região de Berilo, cerrado no norte de Minas. Nessa terra árida vivem algumas comunidades quilombolas que precisam dos caminhões pipa e das cisternas para ter a água, essencial para todas as atividades. O filme mostra o cotidiano dessas famílias no decorrer de uma semana. Nessas casas só vemos mulheres e crianças fazendo todas as atividades. Em um dia da semana, um caminhão passa pelas vilas e as mulheres vão todas juntas lavar as suas roupas no rio. Em outro, fazem compras no mercado da cidade. No fim de semana tem forró, missa, e assim essas mulheres cuidam de suas crianças e formam uma rotina coletiva feminina. No domingo a noite é hora de fazer fila no telefone do bar para conversarem com os pais de suas crianças, que migram durante 10 meses para trabalhar nas lavouras de cana.
Maré nos mostra uma família de mulheres que vivem em um manguezal no litoral baiano. Avó, mãe e filhas que carregam sentimentos distintos sobre o dilema da construção de uma vida com mais oportunidades na cidade ou da preservação do vínculo com a Terra e com a família. A mãe quer que as filhas estudem, para não trabalharem em casa de branco quando forem para a cidade. As crianças querem brincar e catar mariscos, sentir a vida pulsante do mangue em simbiose com a terra, as águas. A avó, guiada por seus orixás, equilibra os ciclos, as energias e conflitos geracionais dessa família de mulheres no ir e vir da maré. Uma ficção que evoca as forças da natureza, do feminino e da ancestralidade.
Obreiras acompanha o cotidiano de quatro mulheres que trabalham na construção civil na região metropolitana de Belo Horizonte. Poliana narra seus pesadelos em que briga com os irmãos e está sempre fugindo e com medo de ficar só. Ela sofre preconceito da família por trabalhar com obra. Cenir conta que deixava as filhas de 8 e 10 anos sozinhas para trabalhar e tinha muito medo, mas não tinha outra alternativa. Ela nunca teve intenção de casar, e prefere ter a sua própria vida. Adriana diz que aprendeu a não depender de ninguém e trabalha no projeto e na obra de sua casa. Rosangela trabalha numa obra só com homens e no turno da noite faz faculdade. Ela conta da sobrecarga que as mulheres são submetidas e do momento quando tentou estudar pela primeira vez e o filho teve depressão, o que a fez abandonar os estudos. Elas conciliam a profissão com a maternidade, a família e os sonhos pessoais. Elas constroem prédios, casas e novas formas de ser mulheres.