de 03/dez a 19/dez
O Cine Beiras d’Água aposta na expressividade e no alcance do cinema para visibilizar as formas de lutar e r-existir nas margens do Velho Chico. A mostra é composta por 51 curta-metragens e um longa de 5 episódios, realizados entre 1965 e 2020.
O conjunto destas obras conectam povos, comunidades, saberes e cosmologias, abordando temas relevantes e sensíveis às comunidades das beiras dos rios e dos territórios da bacia. Esta curadoria acaba por ser também um recorte significativo do cinema realizado no interior de um país que tem a grande maioria de sua cinematografia realizada nos grandes centros urbanos.
A bacia do São Francisco é uma das fontes de vida, história e cultura mais importantes e ameaçadas do mundo. O rio e seus 168 afluentes em Minas Gerais, Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco e Distrito Federal formam a maior bacia hídrica inteiramente brasileira, onde vivem 18 milhões de pessoas em 521 municípios, 3 biomas e 5 regiões metropolitanas.
Um pluriverso formado por mais de 40 etnias indígenas e centenas de comunidades quilombolas, camponesas, pesqueiras, vazanteiras, geraizeiras, fundo de pasto, quebradeiras de coco, pequizeiras e catingueiras.
Em 50 anos, o rio São Francisco perdeu 35% de sua vazão, o que é um indicador gravíssimo de sua vulnerabilização material e simbólica. As transformações nesses territórios vem acontecendo de forma muito rápida e violenta, afetando o ecossistema e suas referências identitárias.
Antes de assistir cerca de 500 filmes nesse processo de curadoria, nossa equipe realizou 2 oficinas de trabalho com movimentos sociais da Bacia, escutando, aprendendo e sistematizando pistas e diretrizes. Nossos programas abordam o impacto ambiental e social de empreendimentos como a mineração, as barragens e hidrelétricas, a transposição do rio e o agronegócio, bem como as lutas dos povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos e camponeses pelas suas terras e pela dignidade de seus povos. Se os filmes falam das relações de poder sobre os corpos e territórios instaurados nesses processos, trazem também um olhar sobre a riqueza do modo de vida desses povos, evidenciando e valorizando seus saberes. A mostra atravessa o São Francisco, da nascente à foz e nos aproxima também de suas lendas, suas belezas, seus mistérios, e nos revela as transformações desses territórios na contemporaneidade.
Uma questão que norteou a escolha dos filmes e nos parece fundamental para a produção audiovisual dos tempos atuais, é formulada pela pesquisadora, curadora e realizadora Amaranta César: O que os filmes podem para as lutas? O que as lutas podem para os filmes?
Nos treze programas da mostra cruzamos filmes realizados em parceria ou pelos próprios movimentos sociais, civis e ambientais no contexto de suas lutas, filmes realizados coletivamente em oficinas com processos de compartilhamento de saberes e centralidade de voz das comunidades retratadas, e filmes que tiveram sua difusão e seu desenho de produção pensados para os circuitos das artes e dos festivais de cinema, mas que se relacionam e aderem a estas causas e forjam encontros potentes e necessários com essas gentes e essas paisagens da bacia. Seja por uma urgência, que visa a transformação concreta de uma situação de conflito ou injustiça, seja para difundir uma contra- informação ou seja pela tarefa de filmar para conservar os fatos à luz da história e transmitir a memória das lutas às gerações futuras, esses filmes são exemplos de um cinema engajado, político. Como disse a também historiadora, teórica e curadora Nicole Brenez, o cinema de intervenção existe apenas na medida em que levanta questões cinematográficas fundamentais: por que fazer uma imagem, que imagem e como? Com quem e para quem? Contra que outras imagens ela se confronta? Por que? Ou, posto de outro jeito, que história queremos?
Realização do I Cine Beiras
Fiocruz Pernambuco
Cooperativa Eita
Financiamento
Equipe
Alan Tygel | suporte TI
André Monteiro | coordenação e pesquisa
Bernardo Vaz | coordenação, curadoria e produção
Estúdio Guayabo: identidade visual
Frederico Benevides | pesquisa, colaboração e revisão
Pedro Antuña | design e redes sociais
Rosana Kirsh | produção executiva
Sérgio Borges | coordenação de programação, curadoria, textos e produção
Parcerias nos territórios e circulação
Articulação São Francisco Vivo
Articulação do Semiárido Brasileiro – ASA BRASIL
Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do NE, MG e ES – APOINME
Caratapa Filmes
Comissão Pastoral da Terra – CPT
Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas – CONAQ
Caatinga ONG
Centro de Agricultura Alternativa – CAA – Norte de Minas
CIMI Nordeste
Centro Sabiá
Coletivo Tramas – UFC
Eccer Liber – CENACIN – IBICT
FASE
Instituto Guaicuy
Manuelzão | UFMG
Movimento dos Pequenos Agricultores
TV VIVA