A transposição do São Francisco foi imposta em um contexto de uma centralidade econômica da produção de commodities, capturando as águas do semiárido para o grande negócio da fruticultura, de pólo petroquímico, carcinocultura. E o discurso de que era para matar a sede do nordestino. Dois canais não se prestariam a este fim. O fotógrafo João Zinclar registra a indagação, no início das obras: “a transposição trará água para o povo do sertão?”
Vários povos e comunidades tradicionais produziram documentários trazendo tanto impactos materiais, quanto os que afetam sua cosmovisão. Estes vídeos foram produções comunitárias ou por movimentos sociais. Rituais, os sítios sagrados, as plantas de cura que seriam e foram afetados. E a luta e resistência, como as fortes imagens dos índios Truká, em ‘Guerreiros da água e da terra’, onde aparecem amordaçados e amarrados. Populações quilombolas denunciam os impactos das obras em suas vidas cotidianas, com a presença de trabalhadores, onde há o estranhamento dessa presença, como violação de sua autonomia, máquinas a derrubar e dividir a terra sem consentimento ou aviso prévio. Vidas transtornadas e o sagrado violado.
Também a produção acadêmica se faz presente em ‘O elefante branco’, com uma visão abrangente e forte das várias dimensões. Em ‘Invisíveis’, todas essas perdas materiais e simbólicas, e os processos de vulnerabilização, acrescidos dos sofrimentos, doenças do corpo e da alma. Meninas e suas vidas roubadas, idosos em sua dor de humilhação. A doença mental como produção do Estado e do capital.
Um conjunto de documentários que trazem o antes, o durante e o depois. Rastros de um modelo de desenvolvimento da doença e não da vida.

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